Clara Garcia é carioca, atriz e assumidamente sedentária. A última vez que praticou
algum exercício físico com frequência foi na infância, quando fazia balé. Hoje, aos 34 anos,
confessa que não mudou sua filosofia de vida de “quanto menos esforço melhor”, mas descobriu em
Pilates um meio de reeducar seu corpo, tratando da saúde sem esquecer a estética. “Fiz três
aulas experimentais e a professora dizia que tinha tudo a ver com meu perfil de não gostar de muito
esforço”, conta Clara. Ela prometeu a professora e a si mesma mais três meses de experiência.
“Virei a maior apaixonada por Pilates”, conta Clara. A história se repete na vida de milhares de pessoas, de
sedentários a bailarinos, esportistas olímpicos e até dos que recorrem a Pilates por questões
de saúde. O que muda na vida de toda essa gente?
Pilates é um método de condicionamento físico que utiliza movimentos e equipamentos apropriados
para trabalhar força, equilíbrio e controle motor. Não imagine nada semelhante a uma academia com todas
aquelas pessoas andando e correndo na esteira ou naquele sobe-desce de linguetas de aço com pesinhos e pesões.
Desenvolvido pelo alemão Joseph Pilates há mais de 85 anos, é um programa individual que resulta
em uma impressionante capacidade de moldar e tonificar músculos, ampliar elasticidade e trabalhar a
concentração e a respiração. Desde 1920, virou a coqueluche entre bailarinos de Nova York,
que queriam aprimorar técnica e capacidade física. Com a morte de Pilates, alguns de seus seguidores continuaram a
prática e passaram à formação gradual de novos pupilos, que se encarregaram de ampliar essa rede
mundial de praticantes.
No Brasil, a técnica de Pilates chegou na bagagem de Alice Becker, uma dançarina profissional de Salvador.
Ela conheceu o método ao fazer sua pósgraduação nos Estado Unidos. “Era uma aula
obrigatória do currículo”, conta. “Acabei gostando tanto que me especializei no método
e, quando voltei ao Brasil, já certificada, trouxe um equipamento para montar meu próprio estúdio.
” Sim, estúdio. Em homenagem ao mestre, seus seguidores chamam sua academia ou escola de estúdio,
como ele mesmo fazia. “Pilates usava este termo porpue, na verdade, ele fazia um estudo do corpo e do
movimento”, explica a argentina radicada em São Paulo Inélia Garcia, educadora física formada
há 27 anos, que já trabalhou com ginástica rítmica, fitness, dança, carate, ioga e, desde
1994, dedica sua vida professional a ensinar, estudar e praticar Pilates.
Inèlia é a proprietária do The Pilates Studio. Alice é a dona do Physio Pilates,
ligada à Polestar Pilates Education. São as duas maiores redes de estúdio de Pilates do Brasil.
Juntas, tem mais de 5 mil alunos. A diferença entre o Pilates de Inèlia Garcia e Alice Becker está
no conceito. Enquanto Inèlia frisa que utiliza o método original “exatamente como Joseph Pilates
fazia”, Alice diz que aplica a técnica somada ao aprimoramento da ciência e da tecnologia. “A
gente acredita que a ciência evoluiu muito e permitiu que o equipamento e a técnica fossem aprimorados”,
explica a dançarina baiana. Um outro estilo de Pilates chegou há menos tempo no país trazido pela
educadora física paulistana Fabiana Silva. Ela inaugurou em São Paulo, há três anos, o
estúdio Spirale sob a bandeira de outra das maiores vertentes mundiais de Pilates, o STOTT PILATES. Trazido do
Canadá, esse estilo também não é idêntico á técnica original.
“A diferença são alguns dos exercícios que adotamos”, afirma Fabiana, que também
tem entre seus profissionais instrutores formados pelo The Pilates Studio. “Mas os benefícios serão
sempre os mesmos.” Independentemente das diferenças conceituais entre as três instrutoras, todas
concordam que Pilates é mais do que simples exercícios. É um método de
reeducação, respeito e reconhecimento do próprio corpo, sem discriminação de sexo e
idade.
FILOSOFIA DE VIDA
Maria da Graça dos Santos é musicista, compositora e tinha 68 anos quando, em 2001, começou a se
queixar de dores pelo corpo. “O médico viu que eu estava com artrose, cansada e sem pique nem para
andar”, diz. “Aí, ele me indicou uma escola de Pilates.” Maria da Graça passou nove
meses fazendo aulas particulares até que a professora a liberou para as aulas em grupo. “Voltei
às atividades como uma pessoa de 50 anos”, conta a musicista que, graças aos exercícios de
Pilates, criou coragem para resgatar material sobre sua carreira e publicou o livro Miniaturas, pela Universidade Federal da
Bahia, com 69 composições foclóricas brasileiras, sendo que 29 são de sua autoria.
“Pilates também atinge a mente da gente”, afirma. Por ter influências de técnicas
orientais como a ioga, é comum ouvir comentários de alunos dizendo que os exercicios, principalmente os
de respiração, estimulam a concentração. Nao é só um condicionamento
físico”, diz Inèlia. “É uma arte, uma ciência e uma filosofia de vida.”
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Desde a abertura das primeiras escolas no pais, o Pilates vem se difundindo rapidamente por todos os estados brasileiros.
Os maiores estúdios tem até lista de espera. Com tanta procura, nos últimos anos surgiram dezenas
de escolas e academias exibindo placas e propagandas com frases do tipo “tempo Pilates”. “Tem gente que
faz um cursinho de fim de semana e no dia seguinte já esta dando aula”, afirma Alice Becker. Alistar-se no
rol de alunos de uma dessas escolas é um grande risco. “O mau uso da técnica e dos equipamentos
pode provocar, no minimo, problemas de coluna e de joelhos”, diz Inèlia Garcia.
A formação de um bom professor de Pilates leva em média dois anos, gastos entre as 800 horas de
aulas, prática e estudo do método. A certificação do instrutor deve ser feita obrigatoriamente
por um órgão internacional, que vai testar, aprovar e acompanhar, de tempos em tempos, a
evolução e a qualidade do atendimento e da técnica do profissional. Giuliana Bergamo é
dançarina desde os sete anos e dona do próprio estúdio de Pilates há pouco mais de 12 meses.
A paulistana de 31 anos conheceu Pilates em 1997 e diz que estudou muito, fez aulas dentro e fora do Brasil e é
certificada desde 2001. “Quando o instrutor faz pela moda, ele tem só o repertório aprendido”,
diz Giuliana. “A diferença está em olhar para o aluno e perceber que cada um precisa de uma
técnica diferente.”
Como os adeptos do método costumam dizer, uma reportagem nunca será o suficiente para entender tudo o
que Pilates é capaz de fazer pelo corpo e pela saúde de qualquer pessoa. “O resultado é uma
mudança interessante que mexe com a sua postura diante da vida”, afirma a atriz Clara Garcia.
DA FRAGILIDADE À PERFEIÇÃO
Joseph Pilates foi um grande estudioso dos movimentos do corpo. Ao longo de toda vida, ele buscou uma atividade na qual
houvesse perfeita coordenação entre corpo, mente e espírito e a importância de trabalhar
força, equilíbrio e contole motor. Sua historia começa ainda menino, na Alemanha, onde nasceu em
1880. Pilates era um garoto pequeno, minguado e asmático. Para sair dessa condição pouco animadora,
passou a se exercitar. Tornou-se ginasta, esquiador, mergulhador, boxeador e artista de circo. Aos 14 anos, já tinha
uma estrutura corpórea beirando a perfeiçao e chegou a ser chamado para posar para quadros de anatomia. Aos
24 anos, durante a primeira Grande Guerra, foi exilado para uma ilha da Inglaterra. Lá começou a desenvolver
o uso de molas na cama dos hospitais onde trabalhava com mutilados e outros exilados. Assim nasceram as idéias que
mais tarde deram origem a alguns dos aparelhos que criou. Após a I Guerra, voltou para a Alemanha e passou a trabalhar
com Rudolph Laban, grande estudioso do corpo humano. Em 1926, partiu para os Estados Unidos onde, ao lado da esposa, Clara,
que conheceu no navio a caminho da América, abriu seu primeiro estúdio. Em pouco tempo de trabalho, Pilates
estava cercado pelos maiores bailarinos da época, que mandavam seus próprios alunos para serem treinados
pelo mestre alemão.
Com sua morte em 1967, aos 87 anos, Clara deu continuidade ao trabalho do marido. Preocupada em manter a técnica
como ele a desenvolveu, Clara nomeou Romana Kryzanowska, pupila de Pilates desde 1947, como tutora do método. Ainda
hoje, aos 83 anos, Romana percorre o mundo certificando novos instrutores e espalhando aos quatro ventos a técnica
de seu mestre. Assim como outros, que após aprenderem a método com Romana, aprimoraram a tècnica
criando variações do método original, como a STOTT PILATES e a Polestar Pilates Education.
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